20 de mai. de 2010

Um estudo sobre o passado remoto da humanidade

Ao elaborar este material destinado como complemento às minhas aulas, procurei não esgotar o tema neste único blog. Ao contrário, outros espaços virtuais serão construídos na medida em que surgirem novas necessidades e enfoques. Um exemplo da abertura de possibilidades que surgem com esta vasta temática é o blog que recomendo a seguir: www.historiasprimitivas.blogspot.com

A "pré-história" do Brasil no período anterior à chegada dos europeus

A Pré-História do Brasil se refere a uma etapa da História do Brasil que se inicia com o primeiro povoamento do território atualmente compreendido pelas fronteiras do Estado Nacional brasileiro(iniciado, acredita - se hoje, há 60.000 anos), e termina no ano de 1500, canonicamente estabelecido como o “descobrimento do Brasil”. Existem diversos problemas relativos a essa periodização convencional e aos nomes com os quais ela opera. Em primeiro lugar, Pré-História é um termo combatido hoje em dia pelos acadêmicos, pois parte de uma noção eurocêntrica de mundo, na qual os povos sem escrita seriam povos sem história (o prefixo “pré” traduz a ideia de anterioridade, ou seja, a Pré-História seria o período “Anterior à História”). No Brasil, essa situação é ainda mais grave, uma vez que a História é normalmente vinculada à chegada do colonizador europeu, desta forma ignorando que os indígenas tivessem uma história própria. Por essa razão, costuma-se hoje denominar esse período da história brasileira como Pré-Cabralino. A ideia de descobrimento parte igualmente de resultado de perspectivas etnocêntricas, pois ignora que o território onde se instalaram os portugueses a partir do século XVI já havia sido descoberto e colonizado por numerosas e diversas etnias. Além disso, nem os americanos nem os portugueses de 1500 concebiam o “Brasil” da forma como o concebemos hoje, razão pela qual a nomenclatura antiga deveria ser evitada.

A Pré-história tradicional geralmente se divide em: Paleolítico, Mesolítico e Neolítico Mas, atualmente, a empregabilidade dessa periodização tem sido revista no mundo todo. No Brasil, alguns autores preferem trabalhar com as categorias geológicas de Pleistoceno e Holoceno. Nesse sentido, a periodização mais aceita se divide em: Pleistoceno(Caçadores e Coletores com pelo menos 12 mil anos) e Holoceno, sendo que este último pode ser denominado por Arcaico Antigo (12 mil a 9 mil anos atrás), Arcaico Médio (9 mil a 4500 anos atrás) e Arcaico Recente (a partir de 4 mil anos atrás), normalmente relacionado à agricultura e ao desenvolvimento da cerâmica.

Os estudos feitos a respeito da "pré-história" brasileira

O Estudo da história Brasileira antes de 1500 é feito, sobretudo, por meio da arqueologia, uma vez que os povos que ocuparam o território onde hoje se encontra o Estado Nacional brasileiro não possuíam, até onde sabemos, escrita. Estudos lingüísticos, etnológicos e históricos têm auxiliado as pesquisas arqueológicas na medida do possível. No entanto, poucos foram os autores que tentaram reconstruir essa história de forma panorâmica (e as tentativas dos arqueólogos de estabelecer uma visão geral da história Pré-Cabralina não se provaram satisfatórios). Para complicar mais a situação, ainda falta muito a ser feito em todos os níveis imagináveis de pesquisa – registros de línguas e comparações, análise de materiais escavados, relações entre sítios diversos da antiguidade e outros do período colonial, etc.

O primeiro estudioso a se indagar sobre o passado brasileiro foi o dinamarquês Peter Wilhelm Lund. Este naturalista foi responsável pelo estudo de várias reminiscências de plantas antigas nas grutas da região de Lagoa Santa (Minas Gerais), onde se fixou, entre 1834 e 1880. Em suas buscas, chegou a encontrar ossos humanos misturados a esses vestígios pré-históricos, um dos primeiros achados que contradizia a teoria da criação bíblica. Foi o primeiro a defender a antiguidade do homem americano, baseado em achados arqueológicos, embora poucos tivessem sido convencidos por suas ideias à época.

Outro achado dentro do território nacional que gerou controvérsias entre os primeiros pesquisadores foram os sítios arqueológicos dos sambaquis, montes de conchas e outros resíduos acumulados por ação humana. Foi o diretor do Museu Nacional – que junto do Museu Paulista representaria o interesse oficial diante dos fatos histórico-arqueológicos no Brasil –, Landislau Neto, que enviou as primeiras missões de relevo para pesquisarem estas regiões, cujas análises apontavam a origem arqueológica dos “montes de conchas”. Hermann Von Ihering, contudo – o diretor do Museu Paulista – primeiramente se opôs a essa visão, dizendo que os restos de conchas teriam sido formados por fenômenos naturais e intertropicais.

Entre 1880 e 1900 ocorreram as primeiras escavações na Amazônia. Descobertas extasiantes de cerâmicas marajoaras foram realizadas nesse período, e foram analisadas em 1882 pelo egiptólogo Paul l´Epine, que acreditava identificar na cerâmica indígena grafias egípcias e asiáticas. Emílio Goeldi também realizou, nesta época, pesquisas importantes no norte. O austríaco J. A. Padberg-Drenkpohl, contratado após a Primeira Guerra Mundial pelo Museu Nacional, foi outra figura importante da história da arqueologia brasileira, que escavou, entre 1926 e 1929, em Lagoa Santa. Seu objetivo era encontrar vestígios em Lagoa Santa que comprovassem os achados clássicos de Lund. Drenpohl, contudo, não foi bem sucedido em sua empresa, tendo passado a criticar os defensores da antiguidade do homem de Lagoa Santa. Em 1934, pouco depois da última expedição de Drenkpohl, Angione Costa publicou o primeiro manual de arqueologia brasileira.

Depois de 1950 a arqueologia oficial se contraiu, enquanto aumentou o número de amadores que passaram a realizar pesquisas no país. Um desses foi Guilherme Tiburtius, imigrante alemão em Curitiba, que teria realizado uma das buscas mais importantes de antiguidades indígenas pelo Brasil, coletando artefatos para sua coleção (recebida pelo Museu do Sambaqui de Joinville). Estudou o litoral catarinense e o planalto paranaense, tendo sido auxiliado pela Universidade Federal do Paraná em suas pesquisas. Harold V. Walter, cônsul inglês em Belo Horizonte, foi responsável por buscas no Estado de Minas Gerais, na região de Lagoa Santa. A despeito de ter empregado uma metodologia pouco válida para os dias atuais, contribuiu muito para a coleta de informações sobre a era pleistocênica. Ainda nessa época, foram realizados esforços substanciais no sentido de se preservar o patrimônio histórico brasileiro. Graças ao esforço de diversos intelectuais, o Instituto de Pré-Históriada USP foi criado, enquanto, alguns anos mais tarde (1961), uma nova legislação sobre o patrimônio era promulgada. Acompanhando esse avanço na questão de preservação da memória brasileira, haviam sido realizadas escavações na foz do amazonas, por Clifford Evans e Betty J. Meggers entre 1949 e 1950, descobrindo importantes artefatos cerâmicos, e em São Paulo e no Paraná entre 1954 e 1956 por Joseph Emperaire e Annette Laming – onde foram feitas as primeiras datações carbono catorze.

A história recente da arqueologia no Brasil inclui a criação da PRONAPA (Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas) com o auxílio do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que teria como objetivo realizar buscas para fornecer uma panorama mais completo do passado histórico-cultural brasileiro. Enquanto isso, instituições como o Museu Nacional, o Museu Paulista e o instituto de Pré-História realizaram pesquisas isoladas, enquanto o Museu Emílio Goeldi se lançou num projeto chamado PRONAPABA (Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica). Vários estudos foram realizados desde então sobre os sambaquis, a pintura rupestre brasileira e a indústria lítica antiga. Em 1980 foi criada a primeira Sociedade de Arqueologia Brasileira. O ensino de arqueologia é hoje ministrado no Brasil, embora de forma limitada. a histora pré-colonial colonial ocorreu antes da chegada de Pedro Alvares Cabral ao Brasil.

A Ocupação do Território e Pleistoceno (60 mil anos A.P. – 12 mil anos A.P.)

A ocupação do território americano é um tema que tem gerado controvérsias substanciais, sobretudo porque muitos arqueólogos ainda são reticentes em aceitar que o homem possa ter chegado à América por outras vias que não o estreito de Bering. Segundo a teoria tradicional, também conhecido como Teoria de Clóvis, o homem “pré-histórico” teria migrado da região atual da Mongólia para o Alasca atravessando a Ponte Terrestre de Bering. Não obstante, descobertas efetuadas em sítios arqueológicos brasileiros têm colocado em questão a validade desta teoria. No Piauí, por exemplo, foi encontrado um fóssil de Ancilostoma Duonedalis com a data de 7750 anos A.P. De acordo com alguns arqueólogos, essa espécie não poderia ter sobrevivido à travessia na Beríngia, pois teria morrido com o frio. Assim, acreditam que a existência do fóssil indica a migração de povos oriundos de regiões quentes do globo. Achados em Minas Gerais e na Bahia foram datados entre 25000 a 12000 anos A.P. No sítio arqueológico Alice Böer, em São Paulo, foram encontradas peças com idade de 14200 A.P. Em São Raimundo Nonato, no Piauí, os arqueólogos defendem a idade de 50000 anos para um abrigo ocupado pelo homem “pré-histórico”. Ainda neste mesmo sítio, os arqueólogos conseguiram encontrar artefatos humanos que remontassem a mais de 48 mil anos A.P.

As descobertas no Brasil polemizaram a visão tradicional da ocupação da América. Os arqueólogos passaram a defender outras teorias sobre as grandes migrações, entre elas, a de que o homem teria chegado à América entre cerca de 150 mil e 100 mil anos atrás, vindo por correntes Malásio-Polinésias (oriundas do sudeste asiático) ou australianas (oriundas do pacífico sul), enquanto outros autores ainda pensam numa corrente migratória originada na África. Contribuem para a definição dessas teorias as similaridades entre os vestígios materiais encontrados na América com aqueles encontrados na Oceania. De qualquer forma, pode-se admitir hoje de forma geral que o Brasil foi ocupado há 60 mil anos atrás, no que diz respeito ao Piauí. As correntes migratórias teriam atingido Minas Gerais há 30 mil anos e o Rio Grande do Sul, há 15 mil anos. Todo o país estava ocupado, certamente, há 12 mil anos.

Holoceno nas regiões nordeste, central, sul e litorâneas do Brasil (12 – 4 mil anos A.P.)

Fases e Tradições

Os arqueólogos denominam por fase um complexo cultural onde os elementos são intimamente associados. Por tradição, os arqueólogos entendem as práticas e técnicas padrão dos antigos para a confecção, por exemplo, da indústria lítica e da pintura rupestre. Uma subtradição é uma divisão dentro da tradição, normalmente porque houve uma diferenciação do padrão original em dois ou mais padrões novos.


Condições Ambientais do Holoceno

No final do período pleistocênico a temperatura variou amplamente em fases de expansão e contração das geleiras. Acredita-se que as temperaturas eram mais frias no pleistoceno do que no holoceno, quando sofreram um aumento considerável. No começo do período arcaico médio, o nível do mar se encontrava 10 metros abaixo do atual. Muitas regiões do país, como o Piauí, por exemplo, eram muito mais úmidas do que o são hoje.


Holoceno no Nordeste e Centro do Brasil

A idade paleolítica brasileira é normalmente colocada entre 12 mil e 4-2 mil anos, quando do surgimento e difusão da prática agricultora na região. Antes disso, os homens viviam de caça, pesca e coleta, fato comprovado por achados arqueológicos e representações em pinturas pré-cabralinas. Nesta época, os homens americanos se desenvolveram de formas diferentes em cada região. No nordeste, vários sítios arqueológicos indicam o desenvolvimento da pedra lascada (lesmas, lascas, furadores, etc.), de fogões para assar caça e da pintura rupestre.
Na região nordeste, as técnicas de trabalho com o material lítico se tornam cada vez mais diversificadas e complexas com o passar do tempo. O número de fogões aumenta com a aproximação da data de 8 mil anos A.P. Fogueiras também são encontradas.

As pinturas rupestres dessa região têm se revelado profundamente instigantes. Na Toca do baixão da Perna 1, por exemplo, (na área arqueológica de São Raimundo Nonato)foram encontradas pinturas rupestres que datam de 10500 anos atrás. No sítio do boqueirão da Pedra Furada, inúmeras pinturas rupestres em pigmento vermelho foram encontradas. Os autores identificam a tradição de pintura desta área como tradição nordeste. Além da tradição nordeste, foram identificadas subtradições como a Várzea Grande (sudeste do Piauí) e a Seridó (Rio Grande do norte). As figuras mais abundantes representam figuras humanas, plantas e animais, mas também são encontrados grafismos puramente abstratos. De acordo com alguns arqueólogos, os temas de violência na pintura rupestre antiga estariam vinculados ao desenvolvimento técnico obtido nos anos subsequentes. A Outra tradição convive com a nordeste e a substitui com o seu encerramento cerca de 5 mil anos atrás.

Na região central e nordeste, uma importante tradição cultural foi identificada pelos estudiosos: a tradição Itaparica (Goiás, Minas Gerais,Pernambuco, Piauí). Essa tradição teria desenvolvido ferramentas líticas lascadas como lesmas, furadores e facas, mas poucas pontas de projéteis. Os povos dessas regiões teriam mudado sua forma de vida cerca de 6500 anos atrás, quando teriam passado a se alimentar de moluscos e frutos. No centro, uma tradição de pintura rupestre denominada “Planalto” teria se desenvolvido.

Holoceno no Sul do Brasil

As datas mais antigas no Sul são atribuídas à tradição Ibicuí (entre 13 mil e 8500 anos), composta de artefatos simples, encontrados na Bacia do Uruguai. A fase Uruguai, que sucede a primeira cronologicamente, data de 11 555 a 8640 anos A.P. e é composta por raspadores, facasbifaciais e pontas de projéteis. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul foram localizados artefatos (facas, raspadores, pontas de flecha foliáceas) de 8500 a 6500 anos atrás, estabelecidos como tradição Vinitu. A tradição Humaitá, mais recente (entre 6500 e 2000 anos atrás) se estende de São Paulo ao Rio Grande do Sul. Os homens dessa tradição produziram raspadores, furadores e, inclusive, zoólitos (estátuas de pedra assumindo formas animais). Outra tradição identificada no sul foi chamada de Umbu; esta teria sido responsável pela confeccção de fogões e pontas de projéteis.


Holoceno no Litoral

Os principais sítios arqueológicos do litoral são os sambaquis, montes de conchas de moluscos (com os quais se alimentavam as populações antigas) formados por ação humana. Normalmente são encontrados junto dos sambaquis esqueletos dos antigos americanos, peças líticas, restos de alimentos, etc. Grande parte dos sambaquis brasileiros se encontram cobertos pelo mar, devido às mudanças climáticas ocorridas durante o pleistoceno tardio e o holoceno. Os sambaquis existem em quase todo o litoral brasileiro. Na época de sua descoberta, no século XIX, foram comparados com estruturas semelhantes existentes na Escandinávia. Os sambaquis são associados à tradição Itaipu. Os povos que habitavam o litoral são normalmente definidos como pescadores semi-nômades.

Arcaico Recente do Sul à Região Nordeste (4 mil A.P. até 1.500 d.C.)

O aparecimento de plantas cultivadas em Minas Gerais data de 4 mil anos atrás. Em São Raimundo Nonato, a agricultura parece ter sido praticada desde a pelo menos 2090 anos. Embora a cerâmica amazônica seja mais antiga que a agricultura, o mesmo fenômeno não ocorre no resto do país, onde a cerâmica mais antiga data de 3 mil anos atrás (na área de São Raimundo Nonato). Arqueólogos brasileiros consideram que o surgimento da cerâmica nas regiões em questão está ligado ao sedentarismo e à agricultura, uma vez que a cerâmica é de difícil transporte e, normalmente, teve a função de armazenar víveres. A tradição Taquara-Itaré é talvez a mais estudada tradição de cerâmica do país.

Período Pré-Cerâmico na Amazônia (12 mil a.C. até 3 mil a.C.)

As datações mais antigas da região amazônica atribuem aos primeiros habitantes da região datas como 12500 a.C. É provável que o território já houvesse sido colonizado anteriormente, mas apenas o avanço da pesquisa na Amazônia poderá confirmar essa hipótese. Os arqueólogos identificam um desenvolvimento da técnica de lascar pedras, começando pelo lascamento por percussão e seguindo para o lascamento por pressão. As mudanças nas técnicas de lascamento são associadas a diferentes modalidades de caça, uma voltada para os animais de grande porte, e outra para os animais de pequeno porte. Nada, contudo, é certo sobre o estilo de caça dos antigos povos amazônicos. Os estudiosos acreditam que esses povos se alimentavam de moluscos (observação baseada na descoberta de sítios como os sambaquis), pequenos animais e frutos. Os sambaquis continuam sendo os principais sítios arqueológicos desse período na Amazônia.

Período Cerâmico Incipiente (3 mil a.C. até 1.000 a.C.)

Durante essa época os povos amazônicos adotaram um estilo de vida similar ao estilo de vida adotado por muitas tribos do território atualmente. Assim, os indígenas teriam vivido em estado de relativa fixação, realizando a horticultura de raízes. Esses grupos desenvolveram a primeira cerâmica elaborada da América, com temas geométricos e zoomórficos, pinturas em tinta branca e vermelha. Os vasos assumiram formatos ovais e circulares. Os grupos de estilos cerâmicos mais conhecidos são chamados de Hachurado Zonado e Saldóide Barrancóide. O último é relacionado a incisões e pinturas em vermelho e branco, enquanto o primeiro à preferência pelo hachurado zonado. Cerâmicas do estilo Saldóide, encontradas no baixo e médio Orenoco, parecem terem sido criadas entre 2800 a 800 a.C. Os estilos Hachurados Zonados de Tutoshcainyo e Ananatuba datam, respectivamente, de cerca de 2000-800 a.C. e 1500-500 a.C. Muitos estudiosos admitiram que essa cerâmica tenha sido influenciado pelos complexos culturais andinos, embora hoje já se admita que os indígenas da Amazônia tenham desenvolvido essa cerâmica elaborada na própria região baixa, tendo provavelmente influenciado os Andes posteriormente.

Essas sociedades praticavam, além da horticultura, caça e pesca. O consumo de mariscos foi reduzido, e esses povos passaram a se instalar nas várzeas e margens dos rios. Assadeiras de cerâmica grossa foram identificadas nesses territórios, de forma que alguns arqueólogos aventam a hipótese da presença da mandioca. Sítios desses complexos culturais foram encontrados na bacia do Ucayali, na Ilha de Marajós, no Orenoco e no Amazonas.


"Pré-História" Tardia e Cacicados Complexos da Amazônia (1 mil a.C. até 1.500 d.C)

Parece que o aumento demográfico das populações amazônicas na época da Pré-Históriatardia, combinado a outros fatores, suscitou grandes transformações entre as sociedades indígenas da Amazônia. Entre o ano 1000 a.C. e o ano 1000 d.C. as sociedades que habitavam regiões da bacia amazônica passaram a se organizar de forma cada vez mais elaborada. Os arqueólogos definem estas sociedades como “cacicados complexos”. Elas eram marcadamente hierarquizadas (provavelmente contendo nobres, plebeus e servos cativos), tinham um chefe poderosos na figura do cacique, e adotavam posturas belicosas e expansionistas. O cacique dominava amplos territórios, e tinha como objetivo aumentar seus domínios por meio da guerra. A cerâmica era altamente desenvolvida, havia urnas funerárias (associadas ao culto dos chefes mortos), comércio e os indícios arqueológicos apontam uma densidade demográfica de escala urbana nessas civilizações. Acredita-se que a monoculturaera praticada, além da caça e da pesca intensivas, a produção intensiva de raízes e o armazenamento de alimentos.

Crônicas do início do período colonial são hoje empregadas na reconstrução das antigas civilizações brasileiras. Muitos cronistas estrangeiros descreveram elementos indígenas do período dos cacicados complexos. A dissolução dessas organizações sociais normalmente é relacionada à conquista, que teria abalado sua estrutura demográfica.

A cerâmica produzida por estas civilizações é classificada em dois grupos principais: o Horizonte Policrômico e o Horizonte Inciso Ponteado. Entre os sítios arqueológicos que apresentaram vestígios agrupados sob o Horizonte Policrômico estão: os Marajoaras (foz do Amazonas) e o Guarita (Médio Amazonas), entre outros localizados fora da Amazônia brasileira. Entre os sítios arqueológicos associados ao Horizonte Inciso Ponteado encontram-se: Santarém (Baixo Amazonas) e Itacoatiara (Médio Amazonas). O primeiro horizonte é caracterizado pelas pinturas brancas, pretas e vermelhas, pelos temas geométricos e pelas incisões. O segundo horizonte é caracterizado pelas incisões profundas e pela técnica de ponteação. Acredita-se que o Horizonte Inciso Ponteado estivesse associado aos antepassados dos povos de língua Karib, enquanto o Horizonte Policrômico teria sido produzido pelos antepassados dos povos de língua Tupi.

Os grandes sítios amazônicos da época dos cacicados complexos parecem ter tido regiões especializadas para o enterro, o culto, o trabalho e a guerra. A ocupação pré-histórica tardia do território era sedentarizada. A entrada do milho e de outras sementes na região, assim como sua popularização entre os americanos, data do primeiro milênio antes de Cristo.


Kuhikugu (1500 A.P. - 400 A.P.)

Uma das civilizações amazônicas conhecidas por ter desenvolvido grandes cidades e vilas durante o período Pré-Colombiano foi a de Kuhikugu. O sítio arqueológico de Kuhikugu, descoberto pelo arqueólogo Michael Heckenberger, se localiza dentro do Parque Nacional do Xingu (região do alto Xingu), e provou ter sido um grande complexo urbano que pode ter abrigado até 50000 habitantes. Construído provavelmente pelos antepassados dos atuais povos Kuikuro, o sítio abriga construções complexas como estradas, fortificações e trincheiras para proteção. Como a descoberta é recente, estudos sobre as formas de vida dessas populações ainda são necessários, embora os estudiosos acreditem que esse povo cultivava a mandioca. O desaparecimento dessa civilização, assim como de outras grandes civilizações amazônicas, é relacionado à entrada de doenças europeias no continente, responsáveis por dizimar as populações locais, por volta do ano 1500 de nossa era. As características naturais da Floresta Amazônica (mata densa, etc.) explicariam porque os antigos europeus não travaram conhecimento com esta civilização brasileira.