Fases e Tradições
Os arqueólogos denominam por fase um complexo cultural onde os elementos são intimamente associados. Por tradição, os arqueólogos entendem as práticas e técnicas padrão dos antigos para a confecção, por exemplo, da indústria lítica e da pintura rupestre. Uma subtradição é uma divisão dentro da tradição, normalmente porque houve uma diferenciação do padrão original em dois ou mais padrões novos.
Condições Ambientais do Holoceno
No final do período pleistocênico a temperatura variou amplamente em fases de expansão e contração das geleiras. Acredita-se que as temperaturas eram mais frias no pleistoceno do que no holoceno, quando sofreram um aumento considerável. No começo do período arcaico médio, o nível do mar se encontrava 10 metros abaixo do atual. Muitas regiões do país, como o Piauí, por exemplo, eram muito mais úmidas do que o são hoje.
Holoceno no Nordeste e Centro do Brasil
As pinturas rupestres dessa região têm se revelado profundamente instigantes. Na Toca do baixão da Perna 1, por exemplo, (na área arqueológica de São Raimundo Nonato)foram encontradas pinturas rupestres que datam de 10500 anos atrás. No sítio do boqueirão da Pedra Furada, inúmeras pinturas rupestres em pigmento vermelho foram encontradas. Os autores identificam a tradição de pintura desta área como tradição nordeste. Além da tradição nordeste, foram identificadas subtradições como a Várzea Grande (sudeste do Piauí) e a Seridó (Rio Grande do norte). As figuras mais abundantes representam figuras humanas, plantas e animais, mas também são encontrados grafismos puramente abstratos. De acordo com alguns arqueólogos, os temas de violência na pintura rupestre antiga estariam vinculados ao desenvolvimento técnico obtido nos anos subsequentes. A Outra tradição convive com a nordeste e a substitui com o seu encerramento cerca de 5 mil anos atrás.
Na região central e nordeste, uma importante tradição cultural foi identificada pelos estudiosos: a tradição Itaparica (Goiás, Minas Gerais,Pernambuco, Piauí). Essa tradição teria desenvolvido ferramentas líticas lascadas como lesmas, furadores e facas, mas poucas pontas de projéteis. Os povos dessas regiões teriam mudado sua forma de vida cerca de 6500 anos atrás, quando teriam passado a se alimentar de moluscos e frutos. No centro, uma tradição de pintura rupestre denominada “Planalto” teria se desenvolvido.
Holoceno no Sul do Brasil
As datas mais antigas no Sul são atribuídas à tradição Ibicuí (entre 13 mil e 8500 anos), composta de artefatos simples, encontrados na Bacia do Uruguai. A fase Uruguai, que sucede a primeira cronologicamente, data de 11 555 a 8640 anos A.P. e é composta por raspadores, facasbifaciais e pontas de projéteis. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul foram localizados artefatos (facas, raspadores, pontas de flecha foliáceas) de 8500 a 6500 anos atrás, estabelecidos como tradição Vinitu. A tradição Humaitá, mais recente (entre 6500 e 2000 anos atrás) se estende de São Paulo ao Rio Grande do Sul. Os homens dessa tradição produziram raspadores, furadores e, inclusive, zoólitos (estátuas de pedra assumindo formas animais). Outra tradição identificada no sul foi chamada de Umbu; esta teria sido responsável pela confeccção de fogões e pontas de projéteis.
Holoceno no Litoral
Arcaico Recente do Sul à Região Nordeste (4 mil A.P. até 1.500 d.C.)
Período Pré-Cerâmico na Amazônia (12 mil a.C. até 3 mil a.C.)
Período Cerâmico Incipiente (3 mil a.C. até 1.000 a.C.)
Durante essa época os povos amazônicos adotaram um estilo de vida similar ao estilo de vida adotado por muitas tribos do território atualmente. Assim, os indígenas teriam vivido em estado de relativa fixação, realizando a horticultura de raízes. Esses grupos desenvolveram a primeira cerâmica elaborada da América, com temas geométricos e zoomórficos, pinturas em tinta branca e vermelha. Os vasos assumiram formatos ovais e circulares. Os grupos de estilos cerâmicos mais conhecidos são chamados de Hachurado Zonado e Saldóide Barrancóide. O último é relacionado a incisões e pinturas em vermelho e branco, enquanto o primeiro à preferência pelo hachurado zonado. Cerâmicas do estilo Saldóide, encontradas no baixo e médio Orenoco, parecem terem sido criadas entre 2800 a 800 a.C. Os estilos Hachurados Zonados de Tutoshcainyo e Ananatuba datam, respectivamente, de cerca de 2000-800 a.C. e 1500-500 a.C. Muitos estudiosos admitiram que essa cerâmica tenha sido influenciado pelos complexos culturais andinos, embora hoje já se admita que os indígenas da Amazônia tenham desenvolvido essa cerâmica elaborada na própria região baixa, tendo provavelmente influenciado os Andes posteriormente.
Essas sociedades praticavam, além da horticultura, caça e pesca. O consumo de mariscos foi reduzido, e esses povos passaram a se instalar nas várzeas e margens dos rios. Assadeiras de cerâmica grossa foram identificadas nesses territórios, de forma que alguns arqueólogos aventam a hipótese da presença da mandioca. Sítios desses complexos culturais foram encontrados na bacia do Ucayali, na Ilha de Marajós, no Orenoco e no Amazonas.
"Pré-História" Tardia e Cacicados Complexos da Amazônia (1 mil a.C. até 1.500 d.C)
Parece que o aumento demográfico das populações amazônicas na época da Pré-Históriatardia, combinado a outros fatores, suscitou grandes transformações entre as sociedades indígenas da Amazônia. Entre o ano 1000 a.C. e o ano 1000 d.C. as sociedades que habitavam regiões da bacia amazônica passaram a se organizar de forma cada vez mais elaborada. Os arqueólogos definem estas sociedades como “cacicados complexos”. Elas eram marcadamente hierarquizadas (provavelmente contendo nobres, plebeus e servos cativos), tinham um chefe poderosos na figura do cacique, e adotavam posturas belicosas e expansionistas. O cacique dominava amplos territórios, e tinha como objetivo aumentar seus domínios por meio da guerra. A cerâmica era altamente desenvolvida, havia urnas funerárias (associadas ao culto dos chefes mortos), comércio e os indícios arqueológicos apontam uma densidade demográfica de escala urbana nessas civilizações. Acredita-se que a monoculturaera praticada, além da caça e da pesca intensivas, a produção intensiva de raízes e o armazenamento de alimentos.
Crônicas do início do período colonial são hoje empregadas na reconstrução das antigas civilizações brasileiras. Muitos cronistas estrangeiros descreveram elementos indígenas do período dos cacicados complexos. A dissolução dessas organizações sociais normalmente é relacionada à conquista, que teria abalado sua estrutura demográfica.
A cerâmica produzida por estas civilizações é classificada em dois grupos principais: o Horizonte Policrômico e o Horizonte Inciso Ponteado. Entre os sítios arqueológicos que apresentaram vestígios agrupados sob o Horizonte Policrômico estão: os Marajoaras (foz do Amazonas) e o Guarita (Médio Amazonas), entre outros localizados fora da Amazônia brasileira. Entre os sítios arqueológicos associados ao Horizonte Inciso Ponteado encontram-se: Santarém (Baixo Amazonas) e Itacoatiara (Médio Amazonas). O primeiro horizonte é caracterizado pelas pinturas brancas, pretas e vermelhas, pelos temas geométricos e pelas incisões. O segundo horizonte é caracterizado pelas incisões profundas e pela técnica de ponteação. Acredita-se que o Horizonte Inciso Ponteado estivesse associado aos antepassados dos povos de língua Karib, enquanto o Horizonte Policrômico teria sido produzido pelos antepassados dos povos de língua Tupi.
Os grandes sítios amazônicos da época dos cacicados complexos parecem ter tido regiões especializadas para o enterro, o culto, o trabalho e a guerra. A ocupação pré-histórica tardia do território era sedentarizada. A entrada do milho e de outras sementes na região, assim como sua popularização entre os americanos, data do primeiro milênio antes de Cristo.